sexta-feira, 2 de maio de 2008

‘A gota d’ água que vicia’

Um dia me pediram para escrever um texto. Não um texto qualquer, mas um conto cheio de vícios de linguagem que um redator nunca deve cometer. O título deveria ser “A gota d’água que vicia”. Essa gota realmente viciou. Começou a consumir meus dias de modo que a nível de sanidade mental eu poderia dizer que a minha já está bastante comprometida.
Há alguns anos atrás nunca pensei na gota. Nem nas gotas. Elas simplesmente existiam, lá nos seus habitats naturais. Mas aí, depois de desenvolver todo um trabalho publicitário imaginário em cima da venda de gotas, elas começaram a me importunar. Meus planos para o futuro eram de exterminar esse vício em gotas que começava a se desenvolver no meu cérebro. Sim, por que vícios são mentais, não físicos. Todos os dias eu criava novas formas de me livrar dessas gotinhas, que cada vez mais iam tomando o meu mundo, indo mais além nos meus limites. Todos os dias eu encarava de frente o que não dá pra encarar de costas: aquelas malditas gotinhas! Meu elo de ligação entre a sanidade e a loucura aos poucos se apagava, mas as malditas gotinhas pareciam que tiravam sarro de mim. Exultavam de alegria, tiravam o sorriso dos meus lábios e, aos poucos, eu ia escrevendo uma dramática página da minha autobiografia. Agora já é hora de dar um basta neste vício, de dar um acabamento final decente à minha história. Como que do dia para a noite, num momento de surpresa inesperada, conspurquei meu vício, me livrei dessas gotinhas que viciam. Elas nem sequer eram de substância química, simplesmente viciavam. Agora eu sou viciada em geografia. Sou completamente viciada em estudar os países do mundo
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Aufwiedersen.

1 comentário:

Unknown disse...

eu devia mostrar isto a minha professora de geografia, que gosta de dizer "novas novidades", "surpresas surpreendentes" e "é por isto que as pessoas suicidam-se e auto-suicidam-se". a mulher e um verdadeiro prodígio da língua portuguesa.