quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Mulheres precisam

Todos os dias mulheres precisam de um bom banho.
Uma dose macia e fina de qualquer hidratante.
Um momento para se olhar ao espelho.

Todos os dias mulheres precisam de um sapato novo.
Ou da certeza de que o melhor do dia vai chegar logo.
Dois minutos para passar um blush.

Todos os dias mulheres precisam de um amor novo.
O antigo amor sempre se fazendo renovado.
Palavras meigas ao pé do ouvido.
Três minutos de silêncio, agarrados.

Todos os dias mulheres precisam de um abraço.
A segurança de braços fortes, apertados.
Um beijo longo de olhos fechados.

Todos os dias mulheres precisam de palavras doces.
Alguns minutos de atenção incondicional.
Um pedaço do céu, um chocolate.

Todos os dias mulheres precisam da mais sincera
compreensão. Da maior necessidade de estar junto.
De não esquecer do outro um só segundo.

Todos os dias mulheres precisam.
Tem dias que recebem, tem dias que não.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Eu te amo como nunca amei ninguém

Essa era a frase preferida de Matilde, que Jorge Manuel insistia em proferir para a mocinha da novela. Matilde descobria, aos poucos, que a sua vida não era um roteiro perfeito, com tramas profundas, de Manoel Carlos. Matilde descobria que seu horário nobre tinha encolhido e que suas falas não faziam mais sentido. Matilde descobria que o script não vinha com um final feliz, que a sinopse era raza, que a narrativa se perdia com o que acontecia todos os dias. E não tinha pena ou caneta que mudasse isso. Não tinha borracha que apagasse a crase mal colocada. Matilde descobria que perdia as rédeas do que vivia e que o seu romance de novela não passava de ficção. Matilde descobria que estava tão sozinha e que o seu filme não se desenrolava em compasso com o que ela dirigia. Matilde descobria que afinal o grande amor também fazia chorar e que não era para sempre, como nos contos de fada. Matilde descobria que tinha o coração cheio de um imenso espaço vazio e que o Jorge Manuel da sua trama não pretendia preencher. Matilde descobria que não fazia parte tão importante do roteiro que o seu Jorge Manuel escrevia, por que ele escrevia sempre na primeira pessoa e, de conjugações verbais, Matilde entendia. Matilde descobria ainda que tinham arrancado os últimos capítulos da sua história e lhe tirado o direito de saber da própria sorte. Matilde descobria como era infantil pedir para ficar para sempre com ele, quando o relógio marcava horas e minutos iguais ou quando ela amarrava pulseirinhas da sorte no seu punho. Matilde deveria pedir apenas para ser feliz. Matilde descobria que as lágrimas não acabavam mesmo que já se tivesse chorado demais, e que, no roteiro dele, essas gotas nunca manchariam o seu nankin por que Matilde descobria que ele escrevia seu filme a lápis, o passado ele apagava, o futuro não era claro. O dela era cuidadosamente escrito num velho moleskine, com pena e tinta preta e aquelas lindas letras capitais iniciando cada grande momento. Como se o dela fosse uma preciosa carta de Shakespear e o dele a efemeridade de um email. Matilde descobria que não sabia mais como resgatar a paixão perdida, que não sabia como dar um novo rumo aos personagens da sua novela e que diálogos eles iriam ter. A única coisa que Matilde sabia é que aquela frase que Jorge Manuel dizia para a mocinha da novela, era tudo o que ela queria ter ouvido para acabar com toda a sua dor, mas que no seu roteiro ele nunca iria dizer.


Final do Ato I. Fecha a cortina.



Auf wiedersehen

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Essa semana...

Aprendi, por exemplo, que é tão valioso ter aquela amiga que acha sempre que nós somos o máximo, melhores, merecemos tudo, somos lindas e incríveis e que não importa há quanto tempo não estamos juntas, o tempo que passamos sempre é especial.

Aprendi que muitos fantasmas do passado podem nos assombrar durante o sono e que nem sempre a gente escolhe se o sono permanece intacto se assim nós desejarmos.

Aprendi que trocar o certo pelo duvidoso é correr o risco da adrenalina ser intensa por apenas um instante e que o certo e o seguro é a certeza de pequenas doses de euforia todos os dias.

E falando em intensidade, aprendi que até os mais distantes são intensos e que amam talvez na mesma proporção que amaria um poeta inebriado, mas guardam a emoção como um tesouro que aproveitam sozinhos, deixando para o mundo o charme e o mistério da dúvida e da insegurança.

Aprendi que, talvez o resto do mundo, não tenha o que eu tenho de intenso e profundo, mas que ainda assim eu sempre me vou dar a conhecer.

Aprendi que mesmo que eu escolha as armas, não estou blindada a nada, pois é tão fina e fraca a minha carapaça e que ainda assim, poucos conseguem perceber.

Aprendi que o amor é um ser vivo que precisa ser alimentado para não morrer.

Aprendi que não importa o tipo de romance, a palavra ainda é importante e que a minha língua é o português.

Aprendi, por fim, que tudo acaba num buraco escuro e que só nos resta viver.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Quem decide?


Quem decide o dia em que a película rosa que cobre o nosso filme vai ser tirada, ou que a última e mais doce jujuba vai ser comida e o pacote vai ficar vazio? Quem decide o dia em que o sol vai amanhecer menos quente e amarelo, ou que o beijo vai ser menos doce e demorado? Quem decide o dia em que o abraço apertado passa a ser mais frouxo, ou que dormir agarrado não tem mais tanta razão de ser? Quem decide quando a magia acaba, ou quando a paixão vira somente um bem querer? Quem decide? Quem decide que a companhia vai ser menos necessária que a ausência, ou que estar ou não estar ali não faz a menor diferença? Quem decide que de repente o chão fica mais duro de pisar, ou que duro mesmo é simplesmente continuar? Quem decide a hora de tirar a emoção, ou se acostumar com a solidão? Quem decide? Eu não.