segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Uma segunda-feira

Lunes. Para ela significava, a princípio, duas coisas: uma palavra que sempre lhe remetia a lua, espaço, universo e todas essas coisas tão fora do chão e que, por isso mesmo, não tinham nada a ver com ela; e segunda-feira em espanhol, uma língua tão cafona quanto uma pose brega e latina de Antonio Banderas.

Segunda-feira, aquele dia que todo mundo reclama por que o final de semana acabou, ou por que vai ter que encontrar de novo aquele chefe chato, ou aquele trabalho insuportável. Segunda-feira, aquele dia que todo mundo quer apagar da semana e que, se apagasse, o ano passaria mais rápido. Segunda-feira, aquele dia em que começam todas as dietas, ou a academia cuja preguiça sempre faz abandonar. A segunda-feira poderia ser tudo isso se ela não tivesse entrado por aquela porta.

Daquela porta em diante, toda a segunda-feira seria o dia dos novos projetos, das novas ideias, dos novos conceitos. Toda segunda-feira seria o começo de uma semana com o cheirinho do café de Paty, ou as portas e os computadores que dona Alice sempre mandava consertar. Toda a segunda-feira seria o começo de uma semana de óperas agudas e viscerais da sua chefe Catarina, ou das brincadeiras e da enormidade de doces consumidos pelo doce que é Juliana. Toda segunda-feira seria tudo novo, seria a chatice de qualquer chefe chato, substituída pelo riso fácil e engraçado de Fabíola ou pelas maçãs do rosto tão vermelhas de Rapha, que um dia sumiu e nunca mais voltou.

Todas as segundas-feiras seriam a renovação dos seus risos com Anna, sua para sempre companheira de letras, que carregava sempre na sua enorme bolsa, uma bagagem de grandes aventuras que ocorriam, na sua maioria, bem antes das 8 horas da manhã. Ou ainda de Mauro, com quem ela partilhava a infinita compreensão do que é não ter um pingo de memória e organização. Todas as segundas-feiras ela entrava por aquela porta com a certeza que escutaria as coisas mais engraçadas da boca de Joelma e que, antes das 9 e meia da manhã Janjão lhe ligaria avisando, mais uma vez, que estava com desinteria e que por isso ia chegar atrasado. Todas as segundas-feiras ela sabia que em alguma hora do dia, a sala iria virar uma bagunça e que tinha dias que ela ria, outros dias, se omitia.

Ao fim do dia, depois que todo mundo saía, ela fechava a porta atrás de si. Mas ao contrário das dietas que ela abandonava, da academia que não frequentava ou dos projetos que não fazia, ela cultivava, amava e vivia todos os dias, sem querer que nenhuma segunda-feira fosse tirada do calendário, sem que o ano fosse diminuído ou a semana encolhida, por que nunca daria tempo dela fazer tudo o que queria.

Exatos um ano e meio de segundas-feiras todos os dias.


Créditos

Aos amigos que fiz em todo esse tempo de convivência e trabalho.
À segunda-feira que é o dia em que tudo é novo e começa de novo.


Auf wiedersehen.