quinta-feira, 1 de abril de 2010

Orkut - Essa tal identidade virtual

De nome estranho que lembra mais uma bebida láctea, por volta de 2004 surge o Orkut. Essa coisa ganhou uma popularidade tamanha que se tornou uma nova característica da cultura brasileira. Andei refletindo sobre o propósito disso. E antes de entender o motivo do por quê temos Orkut, devemos pensar na necessidade de ter “essa tal identidade virtual.”
Vamos lá:
Algo representa você. No seu melhor ângulo. E na maioria das vezes com a ajuda do photoshop para destruir qualquer imperfeição.
É algo que nos permite simular o status de uma vida melhor e com mais “brilho” do que normalmente é.
Esse algo, como uma agenda, te avisa de datas importantes.
Te dá notícias sobre as pessoas que você se importa e que você detesta.
Te dá espaço para perguntar pelos outros ou responder resumidamente como você está.
Te permite adorar,mimar ou bajular alguém, mas permite fazer raiva, ciúme ou indiferença também.
Te permite encontrar várias pessoas do seu passado, importantes ou insignificantes.
Ele te deixa ali, aparentemente disponível e ao mesmo tempo totalmente distante.
O Orkut surgiu no momento onde o homem tem cada vez menos tempo para ele mesmo, mas menos tempo ainda para os outros. Ele faz a parte sociável, hipócrita, saudosista e temporariamente empolgada de cada um de nós.
As vantagens parecem tantas, mas se você parar para perceber verá que:

O Orkut é o que sugere a economia para não se gastar 1 real de crédito no celular, já que a facilidade e a rapidez de comunicação é tão grande que um scrap de parabéns é aceitável...
O Orkut é a desculpa de dizer que você está aí, caso eu precise falar com você, mesmo que você não faça a mínima questão de manter o contato comigo.
O Orkut é o que responde a pergunta que nos fazem de como anda alguém, já que é nos "up dates" que nós descobrimos tudo.
O Orkut é o que tira de nós a felicidade de ouvir a voz daquela pessoa querida com mais freqüência.
É de onde nos escondemos dos outros e até fugimos (as vezes pra nunca mais voltar) quando o nosso mundo cai.
É o que nos aconselha a mandar por depoimento tantas palavras legais que precisavam ser ouvidas pessoalmente.
É o que nos acomoda de sentirmos um perfume familiar e um abraço aconchegante.
É por onde vemos quantas pessoas quiseram entrar para espiar a nossa vida, e quão poucas deixaram um “oi” quando passaram...
É onde colocamos os registros dos nossos momentos mais especiais, aqueles que o “tempo” já nem deixa a gente compartilhar de perto, e ainda assim tantas pessoas nem dão tanta importância...
É o que tira de nós a surpresa das grandes notícias, porque é ele quem sabe primeiro.
O Orkut é mais uma parte nossa que também cumpre uma obrigação com a sociedade, e precisamos fazer parte disso para sermos bem aceitos, para não sermos considerados estranhos...
O Orkut não é a forma de simplificar, facilitar nem modernizar o nosso convívio com as pessoas próximas, porque com o comodismo que ele acentua na gente, as pessoas próximas ficam distantes, e as distantes depois do primeiro momento continuam ainda MAIS distantes... O Orkut é, infelizmente, a certeza de como e do quanto estamos cada vez mais individualistas. E ele é só um exemplo de uma dessas redes de distanciamento que nos aprisionam a uma vida onde fazemos a escolha de sermos representados e não nos sentimos culpados pela nossa ausência no mundo.

Twitter? Nunca tive a curiosidade de conhecer. Nunca fiz para ser diferente, mas para não ser demasiadamente igual a todos que se acostumam tão fácil a esse tipo de modismo–moderno-virtual.
Não pretendo boicotar nem liderar uma revolução. Só espero que todos consigam detestar isso (só um pouquinho) para que possam sentir falta e entender a importância do que é essencial na vida.

E enquanto isso eu continuo ligando a cobrar.