quinta-feira, 14 de maio de 2009

Síndrome do ninho vazio

A ausência não emite som algum, mas grita de doer os ouvidos. A ausência não ocupa espaço físico, mas se espalha ao ponto de nos deixar sufocados...
A ausência não se importa com o quanto ela incomoda. Ela não avisa que vai roubar lugar.
Sentir a falta de alguém é sentir falta de você mesmo. É perceber o seu próprio vazio. É ter sua extensão interrompida bruscamente. É ter só a parte de dentro para procurar lembranças que possam aliviar o aperto. E nessa parte de “dentro” há vestígios, frases, risadas, brigas ,lições, semelhanças e alguns sonhos em comum.
Percebemos que nos tomaram algo quando não conseguimos mais enxergar nossos pedacinhos no outro... Porque o outro não está mais ali pra nos servir de espelho. O outro, que pode ser um amigo, um irmão ou o amor da sua vida, é o começo, o meio e a continuação do que você é, mesmo que esse ‘você’ mude diversas vezes (o outro não vai deixar de contribuir).
Quando eu era menor o meu sonho era ter um computador e um quarto só pra mim. Isso nunca foi possível... Até que bem recentemente, meu espaço pequeno ficou ainda menor quando eu me vi dormindo novamente com minha irmã e minha sobrinha.
Bem, elas tinham um computador...
Foram vários meses disso. Falta de espaço e o computador, que era um sonho tão próximo, mas que não me pertencia.

-Apaga a luz.
-Não faz barulho.
-Hora de sair do computador.
-Esse teu despertador é um saco...
-Vem ver esse filme! Ei! Não acredito que você já dormiu!
-Arrume o quarto hoje!
-Tia.Me empresta aquele teu gloss.

Até que eu descobri que dividir, compartilhar, trocar, aprender, consolar e amar foram os verbos que aquela “falta de paz” me proporcionou por mais quase 2 anos.
Hoje eu cheguei em casa sozinha e tava tudo muito quieto. Eu percebi que depois que elas se foram deixaram muito mais do que um quarto cheio de espaço e um computador. Deixaram comigo e com todos em casa o sonho de te-las novamente aqui, como vinha sendo. Com todos os gritos, brigas, brincadeiras, filmes, comidinhas e o carinho que elas tinham por todos nós, em especial por aquela caridosa alma que perdeu seu egoísmo quando entendeu que dor mesmo sentimos não é quando nos tomam um espaço, e sim quando desocupam um enorme que já existe dentro de nós.
Deixem-me trocar de sonho.
Quero apenas o humilde cantinho barulhento e os poucos minutos de acesso ao computador... Quero arrumar o quarto e permanecer acordada até o fim de todos os filmes.Quero dizer "sim" a todos os "não" que disse. Queria ELAS de volta e todas as experiências que somam a mim, hoje, o que eu sou.

OBS: Eu sei que esse sonho novo continuaria sendo egoísta.É hora de permitir que elas conquistem os seus próprios espaços. É preciso aceitar e compreender que permanecemos no ninho até que estejamos prontos para sairmos dele. E mesmo sabendo o quanto machuca, eu sei que era a hora do vôo de vocês.
Boa sorte, Paz, AMOR e FELICIDADE. É o que meu coração partido (mas ainda coração), deseja verdadeiramente.

Angélica e Duda:
Amo MUITO vocês.
O amor de família.
O amor que aceita todos os humores.
O amor de todo dia.
(pra sempre)

2 comentários:

Unknown disse...

me emocionei que só, Jana :') esta lindo

beijo

Carolina Burgo disse...

Susue. lindo. sem palavras. De longe teu melhor post de todos os tempos. sei muito bem o que é isso. senti a mesmíssima coisa quando mamãe e aimara foram pra tão longe. até hoje essa ausência grita nos meus ouvidos.

te amo susue. obrigado pelo texto lindo que eu já tomei como meu. :)